
Desde que as principais marcas chinesas começaram a chegar ao país, o principal argumento de vendas era o “carro completão”. E com a Chery não foi diferente. O primeiro comercial do Celer trouxe um rap que comparava os itens de série do modelo com os de um carro nacional pelado de uma montadora “exploradora”. Isso foi em abril de 2013, e marcou a chegada do compacto ao Brasil. O tempo passou, a marca assumiu as operações por aqui e construiu uma moderna fábrica em Jacareí (SP) em apenas dois anos. Agora com cidadania brasileira, o novo Celer chega cercado de expectativas, afinal, é o primeiro carro de origem chinesa fabricado no país. Mas uma pergunta não quer calar: será que agora convence?
O que é?
A história do Celer remonta a 2008, quando o modelo foi apresentado pela primeira vez no Salão de Pequim. O visual já era bem atrativo, reflexo do projeto desenvolvido por estúdios italianos. Em 2012, o Celer recebeu a reestilização que somente agora chega no carro nacional. Em relação ao antecessor, há grande evolução na parte dianteira com os faróis rasgados, novo para-choque e grade. De perfil e de frente, lembra um pouco alguns modelos da Mazda. A traseira ganha novas lanternas que incluem até LEDs.
O sedã é um caso à parte, com algumas curiosidades. Apesar de ganhar um novo desenho da tampa do porta-malas e novas lanternas, o terceiro volume ainda carece de harmonia com o restante da carroceria. Por falar nela, é um dos poucos sedãs em que a abertura da tampa do porta-malas inclui o vidro traseiro, ou seja, abre tudo como se fosse um notchback – como no antigo Ford Escort.
Por dentro também há evolução. Se no modelo anterior o acabamento era sofrível, agora a situação melhorou. O painel é completamente novo e ganhou entradas de ar em posição elevada, como deve ser. Também há um novo cluster (com grafismos mais legíveis) e com desenhos sextavados, bancos com espuma mais densa e 18 porta-objetos espalhados por toda a cabine.
No entanto, o problema continua sendo a qualidade dos plásticos: rígidos e de aspecto pobre, não são nada agradáveis ao tato, principalmente na parte superior do painel. Ao menos a montagem e os encaixes das peças estão melhores agora, enquanto o desenho do painel possui elementos geométricos e detalhes em tom de alumínio, que dão mais atualidade ao carro.
É boa a ergonomia de acesso aos comandos do ar-condicionado e do sistema de som. Destoa um pouco do conjunto o volante de desenho simples e sem nenhum botão de comando integrado, item que pelo menos o seu conterrâneo JAC J3 oferece.
Como anda?
Antes de falar sobre o comportamento do carro, é importante citar que a Chery fez diversas alterações mecânicas no modelo nacional. Segundo a marca, a engenharia brasileira efetuou alterações no motor para responder melhor ao volátil combustível brasileiro, e na suspensão para encarar as inúmeras possibilidades de solo, além de mexer no câmbio e nos freios.
Apesar do acesso ao carro, este contato foi um pouco limitado pela Chery: o test-drive ocorreu em uma pista fechada com traçado um tanto travado que permitia chegar a no máximo a 80 km/h, impedindo extrair impressões como o trabalho da suspensão em relação à variações de piso, o desempenho em retomadas, ultrapassagens ou condução rodoviária. Ainda assim, foi possível ter uma base das evoluções do carro.
Com a nova configuração da suspensão e recalibração de molas e amortecedores, o Celer ficou melhor ao volante. A carroceria inclina menos do que antes, ainda que o carro continue sendo macio. Em termos práticos, é mais firme que rivais como J3 e Palio, o que já é um bom começo.
Graças à alavanca mais curta e novos cabos, o câmbio ficou com engates mais precisos, apesar de um pouco secos. A direção é hidráulica e seu novo ajuste deixou as respostas um pouco mais diretas, embora não seja tão leve como os concorrentes que já dispõem de assistência elétrica. O freio está mais progressivo e o famigerado pedal brusco da embreagem foi outra correção bem vinda.
Mesmo evoluindo no quesito dinâmica, o motor 1.5 16V ainda fica um pouco abaixo da média em baixos giros, mesmo com a nova calibração que elevou a potência dos 109 cv para 113 cv aos mesmos 6.000 rpm, com 15,4 kgfm de torque com etanol a 4.000 rpm. Para obter agilidade é preciso pisar mais para elevar o giro do motor, e assim garantir mais disposição.
Outro ponto que também pode melhorar é o isolamento acústico. Não chega a incomodar, mas deixa passar ruídos de câmbio e rodagem acima da média para o segmento.
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Quanto custa?
O novo Celer é tabelado a partir de R$ 38.990 (hatch) e R$ 39.990 (sedã). Como referência, os concorrentes Onix, HB20 e Palio custam quase o mesmo preço nas versões com motor 1.0. Já o rival mais direto em preço, o Sandero Expression 1.6, parte de R$ 42.460.
Desde a versão de entrada, o Celer traz entre os principais itens de série ar-condicionado, airbag duplo, computador de bordo, espelhos retrovisores com ajuste elétrico, direção hidráulica, faróis com ajuste elétrico, freios ABS com EBD, sensor de estacionamento traseiro, travas elétricas e vidros elétricos nas quatro portas.
Outra novidade é a estreia da versão Act (R$ 40.990 hatch e R$ 41.990 sedã), a qual adiciona os faróis de neblina, alarme antifurto na chave, sistema de som com seis alto-falantes e rodas de liga leve. Como opcional, há sistema multimídia com GPS e TV Digital, por R$ 1.200 extras.
Com índice de nacionalização de 35%, o modelo traz componentes dos principais fornecedores automotivos nacionais, o que inclui empresas como Plascar, Metagal, Pirelli, Moura, Bosch, HVCC, Tyco, Johnson Controls, Goodyear, Basf e Petronas. A garantia de três anos e as cores disponíveis são Branco, Preto, Prata, Vermelho e Cinza.
A marca garante que está aprimorando o pós-venda e a disponibilidade de peças, itens fundamentais para emplacar no mercado. O problema é que em ano de crise até a Chery pisou no freio e estabeleceu uma meta de vendas um pouco mais comedida, embora ousada: 10 mil unidades até o fim e 2015.
Com a produção nacional, o novo Celer mostra evolução. A Chery aposta no desenho moderno, uma lista de itens de série mais honesta aliada ao motor 1.5 16V com preço de carro 1.0. Uma rede de concessionárias mais consistente, peças de reposição à disposição e assistência técnica acessível são pontos fundamentais que a marca precisa ter para ganhar mercado. Ao lado do Tiggo renovado, suas opções por aqui começam a ficar ao menos mais interessantes.
Por Julio Cesar
Fotos: autor e divulgação
Ficha Técnica: Chery Celer 2015
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.591 cm3, flex; Potência: 109/113cv a 6.000 rpm; Torque: 14,2/15,4 kgfm a 4.000 rpm; Transmissão: manual de cinco marchas, tração dianteira; Direção: assistência hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Rodas: aço aro 15″; Peso: 1.200 kg; Capacidades: porta-malas 380 litros (sedã 450 litros), tanque litros; Dimensões: comprimento 4.139 mm, largura 1.686 mm, altura 1.492 mm , entre-eixos 2.527 mm.
Galeria: Novo Celer 2015
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